Douglas Stapf Amâncio, Técnico de Foz do Iguaçú, é o entrevistado da Federação Paranaense de Basketball

“Donos”de um dos melhores trabalhos de base do Paraná, os técnicos da ABASFI de Foz do Iguaçú tem grande destaque em resultados no naipe feminino, e vem crescendo muito no masculino.

Um dos principais responsáveis por essa estruturação e evolução é o Professor Douglas Stapf Amâncio, jovem e estudioso treinador das categorias menores de Foz do Iguaçú.

Douglas é o entrevistado da vez aqui no site da Federação Paranaense de Basketball. Ele fala sobre sua carreira, trabalho, e inspirações. Confira o papo abaixo:

 

1 – Qual seu nome e origem? E quando e onde começou o basquete na sua vida? Quando começou com a carreira de técnico?

R: Meu nome é Douglas Stapf Amancio, tenho 32 anos, sou paulistano e moro em Foz do Iguaçu desde a adolescência. Comecei a jogar basquete na escola com 13 anos, influência do meu primo e do meu irmão. Como técnico, com 17 anos, assim que entrei na faculdade, já comecei a dar treino no mesmo colégio em que eu comecei a jogar (Colégio Estadual Almirante Tamandaré), então eu estudava de manhã, treinava a tarde, dava treino entre os turnos da tarde e da noite, e voltava a treinar com a equipe adulta de Foz. No mundo competitivo comecei a ser técnico em 2010.

 

2 – Quais foram seus principais títulos? (FPRB, Jogos Oficiais do estado etc).

R: Os títulos que me lembro com mais carinho é da Copa Brasil de Clubes Sub-14 de 2018 e nossos 2 títulos dos Jogos Escolares do Paraná nos anos de 2016 e 2017. Nos jogos oficiais da FPRB são 13 títulos estaduais e 7 de Taça Paraná nas categorias sub-12 a sub-14 feminino desde 2012, quando conquistamos pela primeira vez. Além desses, já tive oportunidade de ser técnico em 2 títulos Sul Brasileiros de Seleções e 1 título Sul Brasileiro de Clubes. Tenho orgulho também de ter chegado nos últimos 8 anos entre os 4 primeiros colocados nos Jogos Escolares do Paraná, sempre Foz está presente.

Em 2018 comecei a trabalhar com a categoria adulta… por enquanto só batemos na trave, foram 2 vices estaduais e 2 vices dos Jogos Abertos do Paraná, mas estamos na luta.

 

 

3 – Trabalha com masculino e feminino? E por que não trabalha com a outro gênero? Se trabalha com os 2, qual a principal diferença?

R: Sempre trabalhei com os dois gêneros na iniciação, sendo que para competir estive maior tempo com o gênero feminino. Esse ano estou trabalhando nas categorias Sub17 masculino e adulto feminino, além da iniciação e do Sub12 feminino.

Pela minha breve experiência, nas fases inicias (até os 15 anos) as meninas são mais comprometidas e trabalham sem contestar o que o técnico manda. Os meninos nessa fase são mais inconsequentes (ou criativos?), gostam de arriscar por conta própria, brincam na hora errada e não tem tanta atenção aos detalhes como as meninas.

Já a partir dos 15, as poucas meninas que ainda estão de corpo e alma nos treinos são as que se destacam, mas a maioria perde o interesse. Já os meninos que permanecem estão com interesse total na modalidade, onde querem evoluir mais e se interessam mais pelas informações dos técnicos.

Resumindo o que todos já sabem: as mulheres amadurecem antes que os homens.

Mas o jogo e os fundamentos são os mesmos, só a intensidade que é outra.

 

 

4 – Você trabalha sozinho ou tem alguma equipe de Comissão Técnica trabalhando junto?

R: No início eu acompanhava muito como auxiliar, os professores Claudio Lisboa e Ivan Marques. Com o tempo, por conta os horários, e com o aumento do número de categorias sob minha responsabilidade fui acompanhando menos. Mas graças ao projeto Basquete Sem Fronteiras, convênio da Associação de Basquete de Foz do Iguaçu (ABASFI) com Itaipu Binacional, sempre tenho 1 estagiário a disposição em todos os treinos em qualquer categoria. Até ano passado tínhamos um preparador físico, mas esse ano ainda não temos um contratado.

 

 

5 – Quais as dificuldades que você encontra para o trabalho de hoje em dia? Está melhor do que quando começou?

R: A ABASFI surgiu em 2010 exatamente como alternativa à falta de interesse do poder público. Através de projetos e de muito voluntariado conseguimos evoluir em muitos aspectos. A atual gestão da Secretaria de Esportes ajuda como nunca antes, e isso nos deu uma estrutura bem melhor do que tínhamos. Acho que hoje o que falta são voluntários para trabalharem no extra quadra (projetos, promoções, arrecadação de fundos, iniciativas). Hoje temos cerca de 400 crianças na iniciação e 100 atletas nas categorias de base, com 9 professores formados e 6 estagiários. Para quem não tinha nem uniforme há 10 anos, é uma melhora significativa e queremos mais.

 

6 – Quais as dicas que você tem para o atleta que está começando hoje ? E para os técnicos novatos, quais as dicas/sugestões?

R: Atletas: Queira evoluir, sempre tente ser o melhor possível, mesmo que isso não queira dizer ser o melhor do mundo. Ser o melhor que você puder ser, é realizador. Aproveita o momento, essa fase é passageira, vai deixar saudades. Sinta prazer de estar em quadra e não faça nada sem amor.

Técnicos: vou parafrasear o que o saudoso professor iguaçuense Jarbas Assis me disse assim que eu comecei a dar treino: “-Faça o melhor que for possível e até o impossível, mas não faça esperando reconhecimento dos outros, apenas o seu reconhecimento de que fez um bom trabalho.” Ou seja, nem todos vão valorizar o que você faz, muitas vezes nem mesmo os atletas entendem agora o que você está fazendo por eles. A ficha vai cair quando eles forem adultos e olharem para trás. Por isso todo dia pergunte a si mesmo: -Estou fazendo o melhor possível?

 

 

7 – Vamos aprofundar mais nosso assunto. O técnico ao longo da sua carreira vai criando uma filosofia de jogo própria. Fale um pouco de como você organiza seu time no ataque. O que é importante para você que o atleta aprenda na sua filosofia?

R: Nas categorias de base acho importante que todos saibam jogar em todas as posições: o grandão também deve saber jogar no perímetro, o pequeno tem que ter um bom trabalho de pés próximo à cesta. Começo sempre a partir do sistema 5 abertos e vou seguindo uma progressão pedagógica até passarem por todas as experiências. Muitas vezes isso custa campeonatos no início, mas depois alguns anos o resultado começa a aparecer.

Mas não adianta ser samba de uma nota só: para quem trabalha com o que tem (sem poder contratar atletas pontuais) cada geração é diferente. As vezes tem um time alto e lento, as vezes veloz e baixo. Se você fizer sempre o mesmo jogo com peças diferentes, de vez em quando vai dar certo, mas a maioria das vezes não. Com dizia Darwin: “-Não é o mais forte que sobrevive e nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”

 

8 – E na defesa? O que você prega para sua equipe? Se algum outro técnico olhar sua equipe defendendo, como você acha que ele descreveria seus sistemas defensivos?

R: A defesa é a minha parte favorita. É como um jogo de Xadrez gigante. Gosto de pressionar a bola e as linhas de passe para tirar o adversário da zona de conforto. Acho muito importante defender individual nas categorias menores. É mais complexo, por isso demora mais para dar resultado e anos para se ensinar, e nunca se aprende tudo. Claro que vai de acordo com a característica dos atletas que tem em mãos, mas quando vejo um atleta com potencial de ser um bom defensor e que gosta de defender tento valorizar ao máximo, mesmo que ainda não saiba jogar com a bola.

Acredito que os técnicos adversários tenham que estar sempre preocupados em qual estratégia usar em como sair das situações da defesa que irá enfrentar, não simplesmente torcer pra acertar 40% de 3 pontos porque estavam livres com minha defesa dentro do garrafão. Essa preocupação força todos a darem o melhor, assim as duas equipes e os dois técnicos evoluem. Gosto de saber que os adversários estão se preparando para dar o melhor contra nós.

 

9 – Nós técnicos, muitas vezes nos pegamos fazendo auto críticas, importantes para nosso próprio desenvolvimento. Qual teu ponto fraco, ou mais débil? Enxerga alguma falha que pensa ter que mudar para evoluir mais?

R: Meu ponto fraco é exatamente a defesa e o ataque em zona. Uma falha que entendo é que  fiquei muito tempo na base, onde todos jogam e todos tem os mesmos direitos e deveres. Chegando nas categorias acima, se quer ter resultado, todos tem que ter seu papel bem definido na equipe, de acordo com sua característica como jogador. Falta experiência em alto nível, mas estou estudando para melhorar isso.

 

10 – Qual seu técnico guru, aquele que você se espelha ou tenta obter a maior quantidade de ideias?

R: Sou muito próximo do professor Claudio Lisboa, então qualquer dúvida é para ele que pergunto. Ele se apoiou muito nas ideias do Elias Rudek, ao qual sempre tive como exemplo. Também tenho uma admiração especial pelo argentino Mariano Marcos, gênio dos processos pedagógicos da iniciação. Mas existem outros técnicos do Paraná que convivi um pouco e que admiro bastante as ideias e o trabalho como o Fabio Pelanda, Adilson Novak e Daniel Lazier. Os técnicos que tive pouco (ou nenhum) contato mas conheço o trabalho através de clínicas online ou presencial são José Neto, Gustavo de Conti, Demetrius Ferraciu, Ruben Magnano e Sergio Hernandes, para citar alguns.